O poder de Nama-Sankirtana (Karttika 1996)

por Tridandisvami Sri Srimad Bhaktivedanta Narayana Maharaja

Karttika 1996
Uma palestra sobre a canção Sri Damodarastakam – versos 4, 5 e 6

Como receber a misericórdia de nama?

Sri-krsna-nama-sankirtana é o melhor meio para se obter krsna prema. No Brhad-Bhagavatamrta (2.4.7) Srila Sanatana Gosvami escreveu o seguinte verso:

sri-krsna gopala hare mukunda
govinda he nanda-kisora krsna
ha sri-yasoda-tanaya prasida
sri-ballavi-jivana radhikesa

“Ó Sri Krsna, Gopala, Hari, Mukunda, Govinda, Ó filho de Nanda, Krsna! Ó filho de Sri Yasoda! Vida das gopis! Senhor de Radhika! Que Você fique satisfeito comigo”

Uma pessoa que canta os nomes de Sri Krsna, mas que está sem a orientação dos gopas e gopis, não pode alcançar vraja-prema. Isto deve ser lembrado e entendido. Se não contemplarmos o prema de Mãe Yasoda e das vraja-gopis por Krsna e como este prema O controla, não seremos capazes de alcançá-lo. Nas palavras de Srila Sanatana Gosvami: “Vraja-prema é muito raro.”

Além disso, devemos tentar entender a instrução que pode nos dar a qualificação para cantarmos de forma pura e devemos segui-la.

trnad api sunicena taror api sahisnuna
amanina manadena kirtaniyah sada harih

“Considerando-se mais baixo e sem valor do que uma folha de grama insignificante que foi pisada pelos pés de todos, sendo mais tolerante do que uma árvore, não desejando nenhum respeito e oferecendo respeito a todos de acordo com suas respectivas posições, deve-se continuamente cantar o santo nome de Sri Hari.” (Siksastaka, verso 3)

Seguir esta instrução é essencial nos estágios iniciais – o que há de mais essencial. Não podemos galopar ou praticar com sucesso algo que está além de nossa qualificação. Devemos tentar seguir os ensinamentos, tais como as instruções do Upadesamrta, começando com vaco vegam.

Lembro-me de um passatempo de Krsna em Dvaraka no qual Krsna fala para Seus filhos e sobrinhos como devem se comportar de forma que krsna-prema possa surgir. Ele disse: “Vocês devem ser muito educados e humildes com os devotos. Não os deixe irados. E, se por acaso o fizerem e eles os amaldiçoarem de alguma forma, vocês devem permanecer mansos e quietos. Não fiquem irados em troca e nem busquem vingança.” Se você quer ter estes sentimentos e permanecer para sempre em Vraja servindo, você também terá que seguir instruções tais como:

yadiccher avasam vraja-bhuvi sa-ragam prati-janur
yuva-dvandvam tac cet paricaritum arad abhilaseh
svarapam sri rupah sa-ganam iha tasyagrajam api
sphutam premna nityam smara nama tada tvam srnu manah

“Minha querida mente, por favor, ouça-me. Se você está ávida por obter residência em Vraja na plataforma de ragatmika-bhakti, e se deseja alcançar o serviço direto a nava Yugala-kisora, Sri Radha-Krsna, então nascimento após nascimento sempre se lembre com distinção e reverencie com grande amor de Sri Svarupa Damodara Gosvami, Sri Rupa Gosvami e seu irmão mais velho Sri Sanatana Gosvami, bem como todos os outros associados de Sri Caitanya Mahaprabhu, os quais são recipientes da misericórdia dEle” (Sri Manah-siksa, verso 3).

Ao menos que sigamos tais instruções, Nama Prabhu não manifestará Sua forma e todas as rasas em nosso coração.

Vendo Krsna no coração:

varam deva! moksam na moksavadhim va
na canyam vrne ’ham varesad apiha
idam te vapur natha! gopala-balam
sada me manasy avirastam kim anyaih (4)

“Ó Senhor, embora Você seja capaz conceder qualquer bênção, não oro a Você pedindo por liberação, vida eterna em Vaikuntha ou por qualquer outra bênção. Ó Natha, possa Sua forma de Bala-Gopala para sempre estar manifestada em meu coração. Além disto, qual a utilidade de qualquer outra bênção?”

Satyavrata Muni ora a Krsna, como Bala-Gopala (criança vaqueira), para que sempre permaneça manifesto em seu coração. No comentário de Srila Sanatana Gosvami ao Damodarastakam, chamado Dig-darsini, neste verso, ele dá uma pista acerca de como se obter prema e elabora acerca deste ponto em seu Brhad-Bhagavatamrta. Meu Gurudeva, nitya-lila pravista om visnupada Sri Srimad Bhakti Prajnana Kesava Gosvami Maharaja, pegou isto do Brhad-Bhagavatamrta e incluiu como uma nota de pé de página em sua publicação do Dig-darsini Tika.

Queremos ver Sri Krsna com estes olhos, mas os olhos mortais não podem ter o darsana de Krsna, que é sac-cid-ananda (eterno, plenamente consciente e todo bem aventurado). Estes corpos são feitos dos cinco elementos materiais – terra, água, fogo, ar e éter. Nossos olhos materiais não podem ver nem sequer nossas próprias almas, o que falar então da Super-alma. A conclusão é de que devemos tentar ver Krsna com estes ouvidos.

Pippalayana Rsi dá instruções a Gopa-kumara

As notas de pé de páginas retiradas do Brhad-Bhagavatamrta explicam que Gopa-kumara era um bhakta único que desejou ver Krsna com seus próprios olhos. Ele viajou desta Terra a Tapoloka, onde Pippalayana e outros rsis (sábios) estavam praticando austeridades. Inicialmente ele ficou atraído pela tapasya deles, mas então ele começou a lembrar do gopala-mantra. Devido ao efeito causado por esta lembrança, ele perdeu a fé no valor da austeridade.

Pippalayana Rsi disse-lhe: “Por que você perambula por aqui e ali? Se você permanecer aqui conosco e praticar tapasya, receberá o darsana de Krsna dentro de seu coração. Caso contrário, isto não será possível porque os olhos materiais não podem ter o darsana de Krsna.”

Gopa-kumara respondeu: “Anseio por vê-lO com estes meus olhos. Se aqueles que praticaram austeridades, tais como o Senhor Brahma e Dhruva Maharaja, viram Krsna e o Senhor Narayana com seus olhos, então por que eu não posso?” Pippalayana Rsi respondeu: “Eles não viram o Senhor Narayana ou qualquer outro com seus olhos materiais; eles O realizaram em seus corações.”

Os sahajiyas desejam se tornar gopis ou outras personalidades transcendentais com seus corpos materiais. Eles adotam vestes e penteados femininos, usam ornamentos e “se tornam” Lalita ou Visakha-sakhi. Isto não é correto e é uma ofensa. Trata-se de mayavadismo ou sahajiyaismo. Para evitar tal erro, simplesmente devemos nos esforçar para seguir os ensinamentos de Srila Rupa Gosvami, Srila Raghunatha dasa Gosvami e Srila Sanatana Gosvami. Por seguir na linha discipular deles, receberemos o darsana de Krsna. Não é possível para este corpo material, o qual seremos forçados a abandonar, tornar-se sac-cid-ananda. Devemos estar preparados para abandoná-lo assim como Narada Muni por sua vontade abandonou seu corpo. Pippalayana Rsi continuou a dar vários exemplos do sastra para provar que não podemos ver Sri Krsna ou qualquer outra personalidade transcendental com nossos olhos materiais. Ainda assim, Gopa-kumara fizera um voto de que faria isto.

Gopa-kumara nasceu em Govardhana e viajou por todo o universo em busca de sua satisfação íntima. Durante sua jornada, ele foi gradualmente purificado e passou por diferentes níveis de realização. Através do cantar do gopala-mantra, ele foi capaz de ir além de Brahmaloka e Siddhaloka. Então, praticando nama-sankirtana (sri krsna-gopala hari mukunda), ele eventualmente foi até Vaikuntha e, finalmente, chegou em Goloka Vrndavana. Somente quando estava em Goloka Vrndavana ele pôde ver Krsna diretamente. Ter o darsana de Krsna não é possível com estes olhos que temos agora e na atual condição. Pippalayana Rsi explicara a Gopa-kumara que não é possível ver Krsna com os olhos materiais porque eles não podem ver o espírito. Ele então o instruiu a ver Krsna dentro do seu coração.

“O coração também é material”, Gopa-kumara replicou. “Então como posso ver Krsna lá?”
Pippalayana Rsi disse: “Se pegarmos uma variedade de objetos como ferro, madeira e um espelho, seremos capazes de ver nossa face no espelho, mas não nos outros objetos. Similarmente, podemos ver o Senhor dentro do coração, mas não podemos vê-lO com nossos olhos. O olho é uma unidade separada e localizada e, portanto, limitada. Conseqüentemente, ele não pode perceber completamente o Senhor”.

Gopa-kumara então argumentou que o coração também é uma parte separada e localizada do corpo. Pippalayana Rsi respondeu dando outro exemplo, desta vez citando objetos materiais feitos de ferro, madeira e borracha. Ele disse que não podemos esticar ferro ou madeira mas a borracha, que também é material, pode ser esticada. Analogamente, embora o coração esteja localizado somente em uma parte do corpo, ele é flexível e pode se expandir para acomodar a percepção do Senhor juntamente com Seus associados, passatempos e assim por diante. O coração tem a capacidade de ver o Senhor plenamente. Ele disse que apesar de parecer que Dhruva Maharaja teve darsana do Senhor através de seus olhos, ele de fato, O viu dentro de seu coração.

Os olhos somente podem ver uma parte do Senhor de cada vez; não podem perceber a forma completa. Mas isto é possível para o coração. E, mesmo que os olhos pudessem ver o Senhor, onde a pessoa experimenta a bem-aventurança de contemplar Sua forma? Os olhos não têm capacidade de sentir bem-aventurança, mas o coração sim. Quando o Senhor é percebido no coração, bem-aventurança é sentida no coração.

Krsna não pode conceder prema

idam te mukhambhojam avyakta-nilair
vrtam kuntalaih snigdha-raktais ca gopya
muhus cumbitam bimba-raktadharam me
manasy avirastam alam laksa-labhaih
Sri Damodarastakam (5)

“Ó Deva! Possa Sua face semelhante ao lótus – que é emoldurada por Seus cachos brilhantes que cascateiam ondulados e tingidos de vermelho, que é repetidas vezes beijada por Mãe Yasoda e que é embelezada por lábios tão vermelhos quanto frutas bimba maduras, – sempre permanecer visível em meu coração. Milhões de outras bênçãos são inúteis para mim.”

Satyavrata Muni orou “Você pode dar milhões de bênçãos já que é o mestre de todos que as concedem. Ainda assim, não quero nada de Você além de que Sua adorável face, chorando enquanto Você é controlado pelo prema-bhakti de Sua mãe, se manifeste em meu coração.”

Esta é a prece de um vatsalya-raganuga bhakta (alguém que deseja obter devoção espontânea no humor de amor paternal), então é um sentimento muito elevado. Tais bhaktas são extremamente raros. Este tipo de prema só pode ser alcançado através da misericórdia de Mãe Yasodaji, a personificação original e indivisa (akhanda-murti) de vatsalya-rasa. Uma pessoa pode fazer sadhana-bhakti em milhões de formas, começando de sravana, kirtana e visnu-smaranam, mas se não estiver sob a orientação de Srimati Yasoda-devi, não poderá alcançar este tipo de prema.

Krsna não pode conceder este vatsalya-prema porque Ele não o possui; Ele simplesmente desfruta ao recebê-lo. Mãe Yasoda, entretanto, é a morada do vatsalya-rasa original e indiviso. Se quisermos ter afeição e amor como ela, somente podemos obter isto dela, não de Krsna. Ele é o Supremo todo-poderoso. Ele controla e possui tudo, mas, ainda assim, Ele não pode dar tal prema. Ele não possui esta habilidade.

Sri Krsna pegou o humor e o sentimento de Srimati Radhika e apareceu neste mundo na forma de Sri Caitanya Mahaprabhu. Qual a necessidade havia dEle pegar o humor e o sentimento dEla? Ele é visaya (objeto ou o desfrutados) do amor do devoto por Ele. Ele não é asraya, a morada deste amor. Ele queria experimentar as emoções de alguém que tem este prema. Devemos nos abrigar em alguém que seja a morada de prema se quisermos alcançar qualquer uma das rasas – santa, dasya, sakhya, vatsalya ou madhurya.

Esta é a razão pela qual Satyavrata Muni orou a Krsna que Sua forma de Bala-gopala se manifestasse em seu coração. O darsana no coração depende da misericórdia de Krsna e também da misericórdia de Seus devotos. Sem receber a graça deles você não pode alcançar este tipo de prema.

Avyakta-nilair, vrtam kuntalaih snigdha-raktais. A face de lótus de Krsna está coberta por Seu cabelo encaracolado e brilhante que é avyakta-nilair. O comentário explica que avyakta-nilair significa parama-syamal, ou seja “extremamente azul escuro”. A palavra “syamal” é usada para descrever a beleza extraordinária de Krsna. Para saber quão belo Krsna realmente é, devemos conhecer o significado de syamal, mas, na verdade, não há palavra equivalente no Inglês. Ao descrever Sua beleza, meu Gurudeva explicou que Sua tez não é realmente negra mas que não existe uma palavra equivalente em Inglês para descrever a beleza de Krsna.

Snigdha significa “muito macio e brilhante”, raktais significa “avermelhado” e kuntala, “encaracolado”. Bimba-raktadharam – Seus lábios são como a fruta bimba. Meu Gurudeva explicou que a fruta bimba é muito macia. Quando se aplica qualquer pressão sobre ela, imediatamente escorre suco de sua casca. Similarmente, quando qualquer pressão é aplicada nos lábios de Krsna, néctar flui dela. Seu cabelo negro encaracolado, que é muito belo, assemelha-se a milhões de abelhas rodeando a face de Krsna, a qual é repetidas vezes beijada por gopya – Mãe Yasoda.

Srila Sanatana Gosvami explica que as gopis oram para ter a boa fortuna dos brincos de Sri Krsna, os quais sempre beijam Suas bochechas. Satyavrata Muni ora: “Desejo que esta mesma face que é repetidamente beijada por Mãe Yasoda se manifeste eternamente em meu coração – não somente nesta vida, mas para sempre.”

Satyavrata Muni pensou: “Mãe Yasoda é tão afortunada! Que austeridades ela deve ter praticado para ter a fortuna de beijar as bochechas de Krsna? Em que tirtha sagrado ela se banhou? A quem ela deu caridade com generosidade?”

Como a luz de um raio a forma de Krsna Se manifestou por uma fração de segundo no coração de Satyavrata Muni e ele desmaiou. Então, tomado por ansiedade, ele começou a chorar e descrever o que ele vira em seu samadhi darsana – a beleza de Krsna. Se tentássemos descrevê-lO, nossa descrição não seria acurada. Nós só podemos de fato descrevê-lO quando tivermos realmente visto Ele, mesmo que seja somente em um relance. E mesmo assim, nenhuma linguagem mundana pode descrever Sua beleza completamente.

Então Satyavrata Muni está dizendo laksa-labhaih – “Não desejo milhões de bênçãos. Quero somente que Sua face extremamente bela Se manifeste em meu coração.”

Nama-sankirtana é o meio para se obter o darsana direto de Krsna

namo deva! damodarananta visno!
prasida prabho! duhkha-jalabdhi-magnam
krpa-drsti-vrstyati-dinam batanu
grhanesa! mam ajnam edhy aksi-drsyah
Damodarastakam (6)

“Reverências, ó Deva! Ó Damodara! Ó Ananta, que é dotado com potências inconcebíveis! Ó Visnu onipenetrante! Ó meu mestre! Ó controlador de todos supremamente independentes! Fique satisfeito comigo. Estou submergindo profundamente num oceano de sofrimento. Por favor, favoreça-me por derramar a chuva de Seu olhar misericordioso sobre esta alma rendida, que é tão vergonhosamente caída. Por favor, conceda-me Seu darsana direto.”

Absorto nesta prece, Satyavrata Muni chorou em separação e orou: “Como verei esta face maravilhosamente bela, fragrante, macia e doce?” Ele considerou isto por um momento e concluiu que se não realizasse nama-sankirtana, não seria capaz de satisfazer Krsna. Sem satisfazê-lO, Krsna não revelaria Sua face adorável. Por isso, Satyavrata Muni ofereceu esta prece.

Existem muitos tipos de sadhana, todos devem ser assistidos por nama-sankirtana, especialmente na Kali-yuga. Qualquer tipo de bhakti executada sem nama-sankirtana não pode dar frutos.

Kirtana é de muitos tipos: nama-kirtana (cantar os nomes de Krsna), guna-kirtana (cantar sobre as Suas qualidades), rupa-kirtana (kirtana descrevendo Sua forma), lila-kirtana (cantar sobre Seus passatempos) e parikara-kirtana (glorificar Seus associados). Dentre eles, nama-sankirtana é o mais elevado. Srila Sanatana Gosvami confirma isto no Brhad-Bhagavatamrta (2.3.158)

krsnasya nana-vidha-kirtanesu
tan-nama-sankirtanam eva mukhyam
tat-prema-sampat-janane svayam drak
saktam tatah srestha-tamam matam tat

“Nama-sankirtana é o tipo primário dentre os vário tipos de kirtana de Krsna. Ele é considerado superior a todos os outros porque tem o poder de imediatamente chamar a riqueza de prema por Ele”.

Os nomes de Sri Krsna são de dois tipos: primário (mukhya) e secundário (gauna). Dentre os nomes primários, Seus nomes de Vraja, tais como Yasoda-nandana, Nanda-nandana, Syamasundara, Radha-ramana, Radha-Govinda, Radha-Gopinatha e Madana-Mohana são supremos. Por cantar tais nomes podemos atingir toda a perfeição.

No Brhad-bhagavatamrta Gopa-kumara cantou:

sri-krsna gopala hare mukunda
govinda he nanda-kisora krsna
ha sri-yasoda-tanaya prasida
sri-ballavi-jivana radhikesa

“Ó Sri Krsna, Gopala, Hari, Mukunda. Ó Govinda, Ó filho de Nanda, Krsna, Ó filho de Sri Yasoda, ò vida das gopis, Ó Senhor de Radhika, que Você fique satisfeito comigo”.

Gopa-kumara começou a praticar seu nama-sankirtana cantando “Sri Krsna”, mas isto não o satisfez porque ele não tinha ainda se chamado Krsna por nenhum nome relacionado aos Seus devotos amados.
Assim, ele exclamou “Hari”, “Mukunda”, “Govinda” e outros nomes. “Ó Nanda-kisora Krsna! Ó Sri Yasoda-tanaya (ó filho de Yasoda-devi), prasida – fique satisfeito comigo.”

Sri ballavi jivana. Quem é superior dentre todas as ballavi, ou gopi amadas de Krsna? Srimati Radhika. Por esta razão ele diz: “Ballavi-jivana!” “Radha-jivana!” Por cantar os nomes de Krsna, Gopa-kumara atravessou todos os planetas Vaikuntha tendo chegado eventualmente em Vraja.

Analogamente, após ter um relance da face de lótus de Sri Krsna em seu coração, Satyavrata Muni orou a Sri Damodara para receber Seu darsana direto. Uma vez que isto só é concedido quando se executa sankirtana dos santos nomes de Damodara, Satyavrata Muni começou o nama-sankirtana dizendo “Namo deva – Ó Deva, reverências”. Ele não disse “tubhyama – a Você’’.

Nos versos quatro e cinco, Satyavrata Muni orou para que Krsna aparecesse em Seu coração. Quando misericordiosamente fez isto, entretanto, Satyavrata Muni permaneceu insatisfeito porque não podia falar com Krsna ou vê-lO diante de seus olhos e, assim, ele não podia serví-lO. Então ele orou: “Ó Deva, Ó Damodara, Ó Ananta, Ó Visnu, Ó Supremo Controlador de todos, Ó Prabhu! por favor, seja misericordioso comigo e apareça diante de mim; anseio vê-lO”.

A palavra deva significa “brincalhão” ou “alegre”. Satyavrata Muni orou: “Ó Deva, quero ver Você enquanto brinca em Vraja, amarrado pela corda do amor de Mãe Yasoda”. Ele rezou: “Ó Damodara, Sua misericórdia é imotivada e Você é controlado pelo amor de Seus devotos. Compreendo que Você ficará satisfeito comigo se eu praticar bhakti. O próprio nome ‘Damodara’ denota Seu passatempo de ser amarrado ao redor de Sua barriga por Mãe Yasoda. Você ser controlado pelo amor de Mãe Yasoda revela Sua natureza de ser bhakta-vatsala, ou particularmente afetuoso com Seus devotos. Se eu exclamar o nome ‘Damodara’, Você certamente será afetuoso comigo também”.

Satyavrata Muni então se dirige a Ele como Visnu, que significa o “onipenetrante”. “Ó Visnu, Você reside nos corações de todos os seres vivos. Portanto, Você conhece meu coração e o oceano de sofrimento e dor no qual estou imerso”.

Qual a natureza do sofrimento de um bhakta como Satyavrata Muni? Quando oramos desta forma é devido à avidez por atenuar o sofrimento do oceano de nascimentos e mortes. A prece dele, entretanto, não era motivada pelo sofrimento material, mas pelo sentimento avassalador de separação de Sri Krsna.

Satyavrata Muni orou por sadhu-sanga. Ele orou para que, pela misericórdia dos Vaisnavas, ele fosse capaz de ter o darsana of Krsna. No que se refere a nós mesmos, contudo, mesmo que sadhu-sanga esteja disponível, nós não lhe damos importância. Devemos entender claramente que sem sadhu-sanga não podemos alcançar krsna-prema como o vatsalya-prema de Mãe Yasoda. Assim, devemos orar: “Por favor, seja misericordioso. Por favor, dê-nos Seu misericordioso olhar (krpa-drsthi). Este olhar vem por causa de sua misericórdia imotivada, pois, de outro modo, estou desamparado. Não tenho sadhana-bhajana.”

Em seu Stavamala, Srila Rupa Gosvami ora:

pracinanam bhajanam-atulam duskaram srnvato me
nairasyena jvalati hrdayam bhakti-lesalasasya
visvadricim-agha-hara tavakarnya karunya-vicim
asa-bindu ksitam-idam upaity-antare hanta saityam

“Ó destruidor de Aghasura (ou destruidor dos pecados)! Quando ouço sobre os sadhana extremamente rigorosos praticados pelas grandes almas como Sri Suka e Maharaja Ambarisa em tempos passados, meu coração, que é destituído de qualquer vestígio de bhakti, fica acometido por remorso e desesperança. Já que nunca serei capaz de tal bhajana e sadhana difíceis, sinto que nunca obterei os Seus pés de lótus. Mas quando vejo as ondas de misericórdia que Você difundiu por toda a parte, – desde Brahma descendo até os mais hediondos pecadores – meu coração é novamente apaziguado e tocado por um raio de esperança” (Tri-bhangi-pancakam, verso 2).

A intensidade de Sadhana-bhajana em separação

Nesta oração, Srila Rupa Gosvami diz: “Ouvi que Drona e Dhara adoraram o Senhor Narayana por quatro yugas e também que algumas das sadhana-siddha gopis praticaram sadhana por incontáveis kalpas. Enquanto elas praticavam, muitos Brahmas surgiram e desapareceram. Aí somente depois elas alcançaram gopi-bhava”. Este prema é tão raro que nunca seremos capazes de obtê-lo sem a misericórdia imotivada de Sri Krsna. O Sri Sad-Gosvamyastakam (versos 6, 7 e  afirma que:

sankhya-purvaka-nama-gana-natibhih kalavasani-krtau
nidrahara-viharakadi-vijitau catyanta-dinau ca yau
radha-krsna-guna-smrter madhurimanandena sammohitau
vande rupa-sanatanau raghu-yugau sri-jiva-gopalakau

“Adoro os Seis Gosvamis, que passaram seu tempo humildemente cumprindo seu voto de diariamente completar um número fixo de harinama e de oferecimento de dandavat-pranama. Deste modo eles utilizaram suas valiosas vidas e conquistaram a fome e o sono. Sempre considerando-se completamente sem valor, eles ficaram encantados com o enlevo divino ao se lembrarem das doces qualidades de Radha-Krsna”.

radha-kunda-tate kalinda-tanaya-tire ca vamsivate
premonmada-vasad asesa-dasaya grastau pramattau sada
gayantau ca kada harer guna-varam bhavabhibhutau muda
vande rupa-sanatanau raghu-yugau sri-jiva-gopalakau
Sri Sad-Gosvamyastakam (7)

“Ofereço dandavat-pranama aos Seis Gosvamis, que ficaram loucos devido ao prema (premonmada) em separação de Radha-Krsna. Algumas vezes eles iam às margens do Radha-kunda ou do Yamuna e outras vezes ao Vamsi-vata. Intoxicados com krsna-prema, eles ficavam tomados por bhava e em grande júbilo cantavam sobre a mais sublime e brilhante madhurya-rasa de Sri Hari”.

A palavra asesa no verso citado acima se refere aos asta-sattvika bhavas dos Seis Gosvamis, ou as transformações corpóreas nascidas de oito tipos de êxtase. Algumas vezes, em sua intensa separação, sua condição quase culminava com o décimo estágio da vida – a morte. Os Seis Gosvamis ficavam no Radha-kunda e Syama-kunda, rolando no chão, perambulando pela Vrndavana no Vamsi-vata e todos outros locais sagrados, chorando e lamentando-se profundamente.

he radhe braja devike ca lalite he nanda-suno kutah
sri-govardhana-kalpa-padapa-tale kalindi-vanye kutah
ghosantav iti sarvato vraja-pure khedhair maha-vihvalau
vande rupa-sanatanau raghu-yugau sri-jiva-gopalakau
Sri Sad-Gosvamyastakam (8)

“Ofereço minhas reverências aos Seis Gosvamis que estavam sempre chamando: Ó Radha, ó Rainha de Vrndavana, onde Você está? Ó Lalita, ó filho de Nanda Mahraja, onde vocês estão? Você está sentada sob as ávores kalpa-vrksas na Colina de Govardhana? Ou vocês estão perambulando por todas as florestas às margens do Kalindi?” Eles estavam sempre lamentando, desolados e queimando em sentimentos de grande separação enquanto caminhavam por toda procurando por Radha”.

Os Gosvamis comeram e beberam somente o que era suficiente para manter suas vidas, ingerindo simplesmente alguns grãos secos e ervilhas. Algumas vezes eles não comiam nada e outras vezes eles só bebiam água. Quando dormiam era geralmente por apenas por vinte e quatro minutos – nunca por mais de quarenta e oito minutos. Algumas vezes eles não dormiam, nem sequer por um momento. Eles passavam todo seu tempo chorando, lamentando, lembrando e discutindo os doces passatempos de Sri Krsna e das gopis de Vraja. Srila Rupa Gosvami, Sanatana Gosvami e Raghunatha dasa Gosvami costumavam ficar um na companhia do outro dessa forma.

Misericórdia abundante

Satyavrata Muni sentiu desespero pensando: “Se não puder ter o darsana de Krsna, eu morrerei”. Mas, então, de repente ele ficou feliz, começou a sorrir e orou: “Oh, vejo que a misericórdia de Sri Krsna é imotivada e que todos os Seus associados são igualmente misericordiosos. Como a chuva, eles derramam sua misericórdia por toda parte”.

Somente as montanhas não podem receber a misericórdia – a chuva cai no topo da montanha, mas então escorre pela montanha formando valas. A chuva (misericórdia) pode ser retida pela pessoa que tem a seguinte mentalidade:

trnad api sunicena
taror api sahisnuna
amanina manadena
kirtaniyah sada harih

“Considerando-se mais baixo e sem valor que uma folha de grama insignificante que é amassada pelos pés de todos, sendo mais tolerante que uma árvore, estando livre de orgulho e oferecendo respeito a todos de acordo com suas respectivas posições, deve-se cantar continuamente o santo nome de Sri Hari.” (Sri Siksastakam 3).

A misericórdia de Krsna é derramada em todo o mundo, não deixando nenhum lugar que não a receba.

samsara-davanala-lidha-loka-
tranaya karunya-ghanaghanatvam
praptasya kalyana-gunarnavasya
vande guroh sri caranaravindam

“Assim como uma nuvem de chuva extingue um incêndio ardente na floresta por derramar sua chuva sobre ele, Sri Gurudeva, com a chuva da sua misericórdia divina, libera as pessoas que estão queimando no fogo da existência material e sofrendo os três tipos de misérias: – adhyatmika, adhibhautika e adhidaivika. Ofereço preces aos pés de lótus de Sri Gurudeva, que se manifesta quando a misericórdia de Krsna se torna muito espessa e que é um oceano de qualidades auspiciosas” (Sri Gurvastakam, verso 1).

Este verso declara que Srila Gurudeva, que é como uma nuvem feita pela graça de Sri Krsna, derrama está misericórdia em toda parte. Aqueles que querem se banhar em sua misericórdia podem alcançar prema, por outro lado, aqueles que se negam a fazê-lo podem ficar privados desta misericórdia para sempre. Portanto, oro para sempre receber a misericórdia imotivada de Krsna.

O desenvolvimento de sadhana-bhajana

Não se deve ser impaciente e negligenciar a seqüência de sadhana-bhajana. Deve-se praticar o que está no nível que corresponde ao próprio adhikara. Também é importante saber que por praticar bhajana-kriya em sadhu-sanga, progressivamente a pessoa passa por anartha-nivrtti e então alcança nistha, ruci, asakti e depois bhava. Neste ponto, obtêm-se a realização no coração de seu sthayi-bhava, ou seu relacionamento eterno com Krsna, e da forma de Krsna. Este é o estágio de raganuga-bhakti, ou no caso dos devotos do Senhor Narayana e outros, que corresponde ao estado avançado de vaidhi-bhakti.

Satyavrata Muni praticou nama-sankirtana (namo deva damodara) com o desejo de obter o darsana de Krsna. Devemos orar a Krsna, porém mais importante que isso, na nossa prática de nama-sankirtana devemos também ora para Seus associados. Sem ter o darsana of Krsna, kasaya ou a contaminação que permanece no coração nunca desaparecerá. Somente por ver Krsna diretamente este anartha-nivrtti será completado. Então, nem mesmo um traço de anarthas irá exitir nem haverá possibilidade deles retornarem. Ao menos que entendamos este tattva-siddhanta (verdade filosófica conclusiva), nossa bhakti nunca se desenvolverá.

Conselheiro Editorial: Sripad Madhava Maharaja e Sripad Brajanath dasa
Editores: Syamarani dasi e Premavadi dasi
Transcrição: Anupama dasi
Digitadora: Anita dasi
Prova de leitura: Vasanti dasi
Tradução para o Português: Basanti dasi
Revisão: Ramananda Das

fonte: http://www.ipbysbrasil.com/o-poder-de-nama-sankirtana-karttika-1996/


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